Os dados oficiais publicados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) sobre a população muçulmana no Brasil possuem,
pelo menos, dois aspectos passíveis de crítica:
1. Os dados disponíveis estão desatualizados, pois seu
levantamento remonta a quase cinco anos atrás, obtidos no ano de 2010. O lapso
de tempo desde a divulgação do Censo até o presente (2010 a 2015) não
contempla, por exemplo, fenômenos como a crescente reversão de brasileiros ao
Islam e, principalmente, o fluxo migratório mais recente (imigrantes
econômicos, afro-islâmicos e refugiados) que têm originado um crescimento muito
rápido e intenso da população muçulmana nos últimos quatro anos,
particularmente no Paraná.
2. A metodologia estatística aplicada pelo IBGE é feita a
partir de amostragem probabilística (fração amostral). A definição do tamanho e
da seleção da amostra pode permitir apenas uma estimativa aproximativa e não
propriamente uma mensuração exata, completa. Portanto, o que se questiona não é
a consistência dos dados do IBGE nem a sua validade, mas a completude da
aferição censitária. Ou seja, cremos que os resultados do censo são
insuficientes para a medição e avaliação da Ummah brasileira; porém estes resultados não podem ser subestimados.
Num país fundamentalmente cristão como o Brasil, é
oportuno observar que a pessoa que afirma ser muçulmana numa entrevista oficial do
censo do IBGE certamente o faz por convicção de fé e expressa a sua condição
religiosa com liberdade. É sumamente improvável que uma pessoa entrevistada se
declarasse muçulmana se não professasse a fé islâmica.
Com fundamento nas ponderações acima, passamos a fazer um breve esboço da população muçulmana brasileira.
No Paraná, os dados do IBGE indicam que há muçulmanos e
muçulmanas presentes em 42 cidades.
91% dos muçulmanos no Paraná estão concentrados em apenas seis
municípios, pela ordem: Foz do Iguaçu, Curitiba, Paranaguá, Londrina, Maringá e
Dois Vizinhos. E os restantes 9% estão espalhados em outros 36 municípios.
Até o momento, o IBGE não divulgou um detalhamento desta
amostragem da população muçulmana do Paraná segundo as variáveis de gênero
(masculino e feminino), etnia (raça ou cor) e situação do domicílio (urbana ou
rural). Tais variáveis estão disponíveis apenas para a população muçulmana no
Brasil, como apresentaremos mais abaixo.
Em vinte anos, por comparação entre os censos de 1991 e
2010, nos Estados de maior concentração islâmica, a população muçulmana do
Paraná foi a que mais cresceu no Brasil no período: de 4.360 pessoas (em 1991)
para 8.706 (em 2010). Um notável crescimento de quase 100%.
No Brasil, há muçulmanos e muçulmanas presentes em todas as
27 Unidades da Federação, espalhados em 369 cidades.
83% da população muçulmana brasileira concentra-se em cinco
Estados, pela ordem: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Os restantes 17% estão distribuídos nas 22 outras Unidades da
Federação.
É necessário salientar que os Estados de São Paulo e do
Paraná possuem, juntos, 67% de toda a população muçulmana brasileira. Além
da concentração demográfica e de maior quantidade de instituições islâmicas
(Mesquitas, Mussalas, Sociedades Beneficentes e Institutos), esses dois
Estados funcionam como uma complexa referência (territorial, simbólica, cultural,
religiosa e de divulgação) para os muçulmanos do Brasil e imigrantes. Como
exemplo, dois dos maiores centros islâmicos brasileiros de pesquisa estão localizados em
São Bernardo do Campo (SP) e Maringá (PR); respectivamente o CDIAL (Centro de
Divulgação do Islam para a América Latina) e o ILAEI (Instituto
Latino-Americano de Estudos Islâmicos).
Entretanto, levando-se em consideração a proporção de um indivíduo muçulmano por um milhão de habitantes, o Estado do Paraná pode ser considerado o de maior concentração proporcional (834 indivíduos muçulmanos em cada um milhão de habitantes), seguido por Distrito Federal (378), São Paulo (358), Mato Grosso do Sul (352) e Rio Grande do Sul (316).
Entretanto, levando-se em consideração a proporção de um indivíduo muçulmano por um milhão de habitantes, o Estado do Paraná pode ser considerado o de maior concentração proporcional (834 indivíduos muçulmanos em cada um milhão de habitantes), seguido por Distrito Federal (378), São Paulo (358), Mato Grosso do Sul (352) e Rio Grande do Sul (316).
Contudo, de 1991 até 2010, houve considerável ampliação da
presença islâmica no território nacional, com o surgimento, crescimento e
consolidação de comunidades muçulmanas em Estados do Nordeste e do Norte do
Brasil. Na Região Norte, destacam-se os Estados do Amazonas (417 pessoas),
Rondônia (175) e Pará (118). E, na Região Nordeste, destacam-se Bahia (443
pessoas), Ceará (141), Maranhão (126) e Pernambuco (97). Convém citar que a
comunidade muçulmana do Ceará foi constituída fundamentalmente por brasileiros
revertidos ao Islam.
Em vinte anos, a população brasileira aumentou em 29,9%. No
mesmo período, a população muçulmana do Brasil cresceu 57%. Todavia, o caso
mais impressionante de expansão do Islamismo nessas duas décadas é o do Estado do
Amapá. No censo de 1991, não havia ali nenhuma pessoa muçulmana. No censo de 2010,
já havia no Amapá 102 pessoas de fé islâmica. Ou seja, assombrosos 10.100% de crescimento!
Também carece ser mencionado o Estado do Piauí, que registrou nessas duas décadas um crescimento espantoso de 7.700%.
Dos 35.168 indivíduos muçulmanos recenseados pelo IBGE em
2010, é o seguinte o perfil da população muçulmana brasileira, segundo os
resultados das variáveis pesquisadas e segundo a declaração pessoal de cada
pessoa entrevistada:
- Gênero: homens 60% – mulheres 40%.
- Raça: branca 83% – parda 12% – negra 4% – amarela 1% – indígena 0,04% (15 pessoas).
- Situação de domicílio: urbana 99% – rural 1%.
De acordo com censo de 2010, as seis cidades do Brasil com
maior densidade de população muçulmana residente são:
- São Paulo (SP): 8.277 (24% do total nacional)
- Foz do Iguaçu (PR): 5.599 (16%)
- Curitiba (PR): 1.307 (4%)
- São Bernardo do Campo (SP): 1.292 (4%)
- Brasília (DF): 972 (3%)
- Rio de Janeiro (RJ): 964 (3%)
Sem entrarmos na polêmica da divergência entre os dados oficiais e os dados de institutos islâmicos brasileiros sobre o número total de fiéis no País, é evidente que o crescimento do Islamismo no Brasil é um fato histórico, social e antropológico, cujas implicações ainda carecem ser devidamente avaliadas.
Nascimentos, reversões, migrações e até mesmo uma melhoria na captação de informações pelo próprio censo podem se constituir em fatores objetivos para o aumento do número de muçulmanos no País (*), além da intensa atividade de difusão do Islamismo por entidades muçulmanas e da presença no Brasil de muitos Sheikhs que deixaram sua terra natal, constituíram família e residência por aqui e desempenham sua atividade, digamos, "missionária" nas mais diversas cidades brasileiras, muitas vezes com o domínio fluente do idioma português. Acrescente-se ainda, como fator de incremento, a profusão de brasileiros revertidos que já realizaram o Hajj ou que participaram de variados cursos em instituições islâmicas internacionais, contribuindo significativamente com suas experiências pessoais no desenvolvimento de suas próprias comunidades.
Por fim, como nós, muçulmanos, não conhecemos o tamanho exato de nossa população (a Ummah brasileira), não resta dúvida de que é absolutamente imprescindível que as próprias comunidades muçulmanas realizem seus respectivos censos (ou recenseamentos periódicos) e o façam de modo integrado, global, contribuindo para o próprio crescimento da religião de Deus (SWT) no Brasil.
Nascimentos, reversões, migrações e até mesmo uma melhoria na captação de informações pelo próprio censo podem se constituir em fatores objetivos para o aumento do número de muçulmanos no País (*), além da intensa atividade de difusão do Islamismo por entidades muçulmanas e da presença no Brasil de muitos Sheikhs que deixaram sua terra natal, constituíram família e residência por aqui e desempenham sua atividade, digamos, "missionária" nas mais diversas cidades brasileiras, muitas vezes com o domínio fluente do idioma português. Acrescente-se ainda, como fator de incremento, a profusão de brasileiros revertidos que já realizaram o Hajj ou que participaram de variados cursos em instituições islâmicas internacionais, contribuindo significativamente com suas experiências pessoais no desenvolvimento de suas próprias comunidades.
Por fim, como nós, muçulmanos, não conhecemos o tamanho exato de nossa população (a Ummah brasileira), não resta dúvida de que é absolutamente imprescindível que as próprias comunidades muçulmanas realizem seus respectivos censos (ou recenseamentos periódicos) e o façam de modo integrado, global, contribuindo para o próprio crescimento da religião de Deus (SWT) no Brasil.
Infográfico 1: O crescimento da população muçulmana do Brasil (1991-2010)
Infográfico 2: Distribuição geográfica percentual da população muçulmana do Brasil (2010)
Infográfico 3: Distribuição geográfica percentual da população muçulmana do Paraná (2010)
Tabela 1: Distribuição nos Estados da população muçulmana do Brasil (2010)
Estado
|
População
muçulmana:
|
Proporção
por um milhão de habitantes
|
|
1
|
SP
|
14.778
|
358
|
2
|
PR
|
8.706
|
834
|
3
|
RS
|
3.375
|
316
|
4
|
RJ
|
1.428
|
89
|
5
|
MG
|
1.008
|
51
|
6
|
DF
|
972
|
378
|
7
|
MS
|
863
|
352
|
8
|
SC
|
774
|
124
|
9
|
GO
|
684
|
114
|
10
|
MT
|
502
|
165
|
11
|
BA
|
443
|
32
|
12
|
AM
|
417
|
120
|
13
|
RO
|
175
|
112
|
14
|
CE
|
141
|
17
|
15
|
MA
|
126
|
19
|
16
|
PA
|
118
|
16
|
17
|
RR
|
117
|
260
|
18
|
AP
|
102
|
152
|
19
|
PE
|
97
|
11
|
20
|
PI
|
78
|
25
|
21
|
ES
|
76
|
22
|
22
|
PB
|
76
|
20
|
23
|
RN
|
45
|
14
|
24
|
AC
|
24
|
33
|
25
|
SE
|
22
|
11
|
26
|
TO
|
17
|
12
|
27
|
AL
|
4
|
1
|
TOTAL
|
35.168
|
184
|
Tabela 2: Distribuição nos municípios da população muçulmana do Paraná (2010)
Município paranaense:
|
População muçulmana:
|
|
1
|
Foz do Iguaçu
|
5.599
|
2
|
Curitiba
|
1.307
|
3
|
Paranaguá
|
374
|
4
|
Londrina
|
228
|
5
|
Maringá
|
214
|
6
|
Dois Vizinhos
|
170
|
7
|
Cascavel
|
79
|
8
|
Paranavaí
|
76
|
9
|
São José dos Pinhais
|
64
|
10
|
Francisco Beltrão
|
48
|
11
|
Umuarama
|
41
|
12
|
Ponta Grossa
|
39
|
13
|
Cambé
|
37
|
14
|
Arapongas
|
36
|
15
|
Ibiporã
|
35
|
16
|
Guaíra
|
33
|
17
|
Terra Rica
|
31
|
18
|
Ivaiporã
|
29
|
19
|
Carambeí
|
27
|
20
|
União da Vitória
|
27
|
21
|
Guarapuava
|
22
|
22
|
Pinhais
|
22
|
23
|
Assaí
|
20
|
24
|
Campo Largo
|
13
|
25
|
Santa Terezinha de Itaipu
|
13
|
26
|
Toledo
|
13
|
27
|
Pato Branco
|
12
|
28
|
Andirá
|
11
|
29
|
Araucária
|
10
|
30
|
Cianorte
|
10
|
31
|
Colorado
|
9
|
32
|
Lapa
|
9
|
33
|
Irati
|
8
|
34
|
Itambaracá
|
6
|
35
|
Bela Vista do Paraíso
|
5
|
36
|
Campina da Lagoa
|
5
|
37
|
Salto do Lontra
|
5
|
38
|
Santo Antônio do Sudoeste
|
5
|
39
|
Uraí
|
5
|
40
|
Jardim Alegre
|
4
|
41
|
Nova Londrina
|
4
|
42
|
Santa Isabel do Ivaí
|
4
|
TOTAL
|
8.706
|
Imagem 1: Densidade da população muçulmana do Brasil (2010). As áreas (Estados) em marrom mais escuro representam a maior concentração demográfica.
Imagem 2: Densidade da população muçulmana do Paraná (2010). As áreas (municípios) em verde mais escuro representam a maior concentração demográfica.
Para download do detalhamento por município de cada Unidade da Federação: clique aqui
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Páginas do site oficial: Cidades & Estados. Tabela comparativa do Censo de 2010 com as variáveis de gênero, raça e situação de domicílio, para download.
PHILIPPE WANIEZ e VIOLETTE BRUSTLEIN: Os
muçulmanos no Brasil: elementos para uma geografia social. In: Revista
Aceu, vol. 1 – nº 2 – pág. 155 a 180 – jan./jul. 2001. Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Download no site da PUC-RJ.
FAUSTINO TEIXEIRA e RENATA MENEZES (orgs.).
Religiões em movimento: o Censo de 2010. Petrópolis (RJ), Editora Vozes, 2013. Para visualização no Google Books.
IHSAN MOHAMMAD ALI KALANDAR. Os Muçulmanos no
Brasil. Tradução de Samir El Hayek. (São Paulo), Embaixada
do Kuwait no Brasil, 2001.
LEANDRO MOREIRA. O Islã no Brasil: os
muçulmanos imigrantes e o islamismo em São Paulo. São Paulo, Universidade
de São Paulo (USP), 2004. (Dissertação de Mestrado em Sociologia.). Publicado na
Alemanha pelas Novas Edições Acadêmicas, 2013.
_____________________________________
NOTA:
NOTA:
* Se o Altíssimo permitir, em breve publicaremos artigos neste blog sobre os temas da reversão de brasileiros ao Islamismo e o fluxo imigratório ao Brasil.
Salam aleikum irmãos, O Islã é a religião que mais cresce no mundo.
ResponderExcluirPelas contas com esseseu números 2% da população da cidade é mulcumana
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAssalam alaikum. Os números não são meus, mas do IBGE. A qual cidade você se refere?
Excluir