sábado, 1 de novembro de 2014

Obras de referência em português

Para as pessoas que desejam uma aproximação ou abordagem inicial, apresentamos algumas obras de referência e fontes em português sobre a história do Nobre Alcorão e do Islam.
  • Mansour Challita. O Alcorão ao alcance de todos. Rio de Janeiro. Associação Cultural Internacional Gibran, sem data (1978).
  • Mohammad Hamidullah. Introdução ao Islam. São Bernardo do Campo, Editora Alvorada, 1990.
  • Paulo Daniel Farah. O Islã. São Paulo, Publifolha, 2001.
  • Azzedine Guellouz. O Alcorão. Lisboa, Instituto Piaget, 2002.
  • Munzer Armed Isbelle. Descobrindo o Islam. Rio de Janeiro, Editora Qualitymark/Azaan, 2002.
  • Munzer Armed Isbelle. Sob as luzes do Alcorão. Rio de Janeiro, Editora Qualitymark/Azaan, 2003.
  • Juan Vernet. As Origens do Islã. São Paulo, Editora Globo, 2004.
  • Bruce Lawrence. O Corão: uma Biografia. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2008.
  • Thomas Cleary. O Essencial do Alcorão - o coração do Islã. São Paulo, Editora Jardim dos Livros,  2008.
  • Roberto Cattani. Islam e Islamismo. São Paulo, Editora Claridade, 2008.
  • Sheikh Aminuddin Muhammad. História do Al-Qur'án, do Hadice e da Bíblia. Maputo (Moçambique), Editora Sautul Isslam, 1430 (2009).
  • Tamara Sonn. Uma breve História do Islã. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 2011.
Mansour Challita
Mohammad Hamidullah

Paulo Farah

Azzedine Guellouz

Munzer Armed Isbelle

Munzer Armed Isbelle

Juan Vernet

Bruce Lawrence

Thomas Cleary
Roberto Cattani
Sheikh Aminuddin Muhammad

Tamara Sonn

Uma leitura indispensável contra as armadilhas e equívocos do orientalismo (e principalmente dos orientalistas) está na obra crítica de Edward W. Said: Orientalismo - o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, Editora Companhia das Letras, 2013.


Edward W. Said

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Islam e abate halal no Paraná

Em 2013, segundo dados do IBGE, foram abatidos 5,6 bilhões de unidades de frango no Brasil, o maior exportador mundial de carne de frango. [1]
No ano passado, o Brasil exportou 1,8 milhão de toneladas de aves e 318 mil toneladas de carne bovina abatidos pelo método halal. Apenas para os países árabes, as vendas de carne bovina somaram mais de 4 bilhões de dólares.
O Paraná é o maior Estado brasileiro produtor e o primeiro no ranking de vendas externas do setor de avicultura, liderando também o abate halal de frangos. Em 2013, o Paraná ultrapassou 2 bilhões de dólares de faturamento com exportações de frango. [2]

Estas afirmações podem parecer apenas de natureza econômica, porém há nelas importantes implicações em relação à organização dos muçulmanos e à expansão do Islam.

O abate halal de aves e bovinos segundo os princípios islâmicos pressupõe, primeiramente, uma mão de obra especializada para esta atividade, ou seja, um núcleo, ainda que pequeno, de muçulmanos na cidade em que o abate se realiza.

Num segundo momento, esse núcleo islâmico, aglutinado pela crença comum e pelo mesmo local de trabalho, tende a estabelecer uma comunidade.

Essa comunidade, quando atinge determinado grau de organização, costuma tornar-se uma congregação, reunindo-se ao menos em um local de oração coletiva (sala no próprio local de trabalho, Mussala ou Mesquita). Se o nível organizativo aumenta, estão geralmente dadas as condições para a constituição de uma associação ou entidade beneficente muçulmana nessa comunidade e para o uso de ferramentas digitais visando à difusão do Islam, como facebook, blogs e sites.

A este quadro geral, devem ser acrescentados dois outros fatores: a inspeção da carne produzida e a origem da mão de obra.

Para a inspeção da carne de aves e bovina, é necessária a presença de certificadoras halal, que garantem a procedência e o rigor do método utilizado no abate. As principais certificadoras no País são a Cdial Halal, a Cibal Halal/Fambras e a Siil Halal [3]. Além disso, a participação das certificadoras no processo produtivo também contribui para a difusão de experiência e conhecimento junto à comunidade islâmica local.

Quanto à origem da mão de obra, além dos brasileiros revertidos ao Islam e dos ben-árabes (descendentes de árabes), há os fiéis imigrados ao Brasil: afro-islâmicos e refugiados.

Os afro-islâmicos são oriundos de distintos países como Senegal, Nigéria, Moçambique, Somália, Serra Leoa, Guiné e outros. Os refugiados muçulmanos vêm principalmente de Bangladesh, Paquistão, Síria, Iraque, Palestina, entre outros.

Afro-islâmicos e refugiados imigram ao Brasil em busca de melhores condições de vida, de oportunidades de trabalho, de segurança, de paz ou de refúgio de guerras e perseguições em seus países. Em geral, chegam para trabalhar no abate halal em frigoríficos e cooperativas.

Muitos acabam sendo vítimas de tráfico internacional de pessoas ou sofrem com o aliciamento de mão-de-obra e com condições degradantes de vida ou de trabalho. Enfrentam a barreira do idioma, a burocracia para obtenção de vistos e documentos no Brasil e, não raro, aqui padecem de preconceitos por serem estrangeiros (xenofobia), por serem muçulmanos (islamofobia) ou por sua etnia e raça.

No Paraná, tem sido notável e fundamental o trabalho desenvolvido pela SBM (Sociedade Beneficente Muçulmana) de Londrina na acolhida aos imigrantes, no apoio religioso, na solidariedade ativa e no auxílio à organização dessas comunidades no interior do Estado.

Para pessoas em situação de risco ou de fragilidade, como são os imigrantes, constitui uma dádiva a possibilidade de congregação religiosa e proteção mútua.

Dentro desse panorama geral que esboçamos, estão inseridas as comunidades islâmicas em diferentes cidades do Paraná. O trabalho no abate halal nos parece ser o meio através do qual se inicia o desenvolvimento, ampliação, coesão e comunicação dessas comunidades.

Impressiona a profusão de cidades nas quais existe o abate halal no Paraná, que pressupõe a existência, em cada uma delas, de um núcleo de muçulmanos, sem os quais não é possível o abate de aves e bovinos segundo os preceitos do Islam.

A seguir, apresentamos um quadro com as cidades paranaenses em que há abatedouros com certificação halal. [4]


CIDADE
ABATEDOURO
1
Arapongas
Frango DM
2
Cafelândia
Copacol Coop. Agroind. Consolata
3
Campo Mourão
Tyson do Brasil
4
Capanema
Diplomata Industrial e Comercial
5
Carambeí
BRF - Brasil Foods (Sadia, Perdigão, Batavo)
6
Cascavel
Copavel / Kaefer Agroindustrial
7
Cianorte
Avenorte - Frango Guibon
8
Cruzeiro do Oeste
FrigoAstra / FrigoCruz
9
Dois Vizinhos
BRF - Brasil Foods (Sadia, Perdigão, Batavo)
10
Francisco Beltrão
BRF - Brasil Foods (Sadia, Perdigão, Batavo)
11
Itapejara do Oeste
Agrogen S.A Agroindústria
12
Jaguapitã
Avebom / Jaguafrangos
13
Joaquim Távora
Frangos Pioneiro
14
Mandaguari
Cooperativa Cocari
15
Marechal Cândido Rondon
Cooperativa Agroindustrial Copagril
16
Maringá
Gonçalves & Tortola
17
Medianeira
Coop. Agroindustrial Lar
18
Palotina
C.Vale Cooperativa Agroindustrial
19
Paranavaí
Avícola Felipe
20
Pato Branco
Frango Seva
21
Rolândia
Agrícola Jandelle / Granjeiro Alimentos
22
Santa Fé
Avícola Agroindustrial São José
23
Toledo
BRF - Brasil Foods (Sadia, Perdigão, Batavo)
24
Umuarama
Agroindustrial Parati
25
Ubiratã
Unidade Industrial de Aves - Copagril

É oportuno observar que, nas 25 cidades paranaenses com abate halal, na metade delas (12) há local consagrado à oração coletiva da comunidade (sala própria, Mussala ou Mesquita) e, dessas doze, nove foram inauguradas nos últimos quatro anos.

Insha Allah, algum dia, haja em todas as 399 cidades do Paraná!

Eis o mapa com a disseminação do abate halal e a expansão do Islam no Paraná (pontos azuis identificam abate halal e estrelas verdes indicam Mesquitas ou Mussalas):

Clique no mapa para ampliar

Em razão do potencial econômico desta atividade produtiva, os investimentos de capital tendem a ampliar as plantas avícolas e, com isso, expandir o abate halal e os próprios núcleos de comunidades islâmicas.

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NOTAS:

[1] IBGE
[2] Cdial
[3] Sites das certificadoras: Cdial Halal, Cibal Halal/Fambras,e Siil Halal.
[4] Fontes: Sindiavipar e Abpa.

sábado, 11 de outubro de 2014

Mesquita de Jaguapitã



Mesquita Hazrat Omar (ra)

Endereço: Avenida Bandeirantes, 225. Centro. Jaguapitã - Paraná
Fone: Ø
Blog: clique aqui
Facebook: clique aqui
HISTÓRIA:

A Mesquita Hazrat Omar (Zame Moshzid) da cidade de Jaguapitã, cuja população é de aproximadamente 12 mil habitantes, foi fundada em outubro de 2013.
Os muçulmanos de Jaguapitã construíram e edificaram, literalmente, a sua Mesquita colocando mãos à obra com cimento, tijolos, telhas etc.
A comunidade muçulmana é principalmente constituída por bengaleses e grande parte dela trabalha no abate halal em frigoríficos da região, como na avícola Avebom e na Jaguafrangos.


Interior da Mesquita de Jaguapitã

Interior da Mesquita Hazrat Omar

Comunidade muçulmana de Jaguapitã

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Mesquita de Francisco Beltrão


Nova Mesquita de Francisco Beltrão - 2015 (exterior)



EndereçoRua São Cristóvão, 386. Bairro Pinheirinho. Francisco Beltrão - Paraná
FoneØ
Site: não possui
FaceBook: clique aqui

HISTÓRIA:
A primeira Mussala foi inaugurada em março de 2014 e funcionava na Avenida Atilio Fontana, 3883, no Bairro Pinheirinho.
A nova Mussala, agora Mesquita El-Rahman, foi inaugurada em setembro de 2015, para acomodar mais fiéis de uma comunidade em crescimento.
A comunidade islâmica na cidade de Francisco Beltrão, cuja população é de aproximadamente 85 mil habitantes, é constituída por cerca de 70 pessoas.
A maioria dessa comunidade trabalha no abate halal dos Frigoríficos Sadia na cidade.
São muitos imigrantes islâmicos de Bangladesh (o maior grupo), além de muçulmanos vindos da África (Congo, Gana, Marrocos, Somália) e do Paquistão, alguns poucos árabes e brasileiros revertidos ao Islam. Também há a fundamental presença feminina: as esposas de estrangeiros imigrados.
A Mussala oferece aulas de português para os imigrantes e, em breve, haverá também aulas de idioma árabe.


A comunidade de Francisco Beltrão na nova Mesquita - 2015


Interior da nova Mesquita


Interior da nova Mesquita (2015)


Interior da nova Mesquita (2015)
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As fotos abaixo são da primeira Mussala de Francisco Beltrão

Primeira Mussala de Francisco Beltrão - 2014 (interior)

Comunidade muçulmana em Francisco Beltrão - 2014

Muçulmanos e muçulmanas de Francisco Beltrão -2014

Khutba do Eid al-Adha (Festa do Sacrifício) em Francisco Beltrão

Salat do Eid al-Adha (Dhul-Hijjah 1435)

  • Notícia sobre a comunidade muçulmana no Jornal de Beltrão: clique aqui

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mesquita de Marechal Cândido Rondon


Mesquita Muhammadia Jame

Endereço: Rua Minas Gerais, 437, Sala 02. Centro. Marechal Cândido Rondon - Paraná
Fone: Ø
Site: não possui
FaceBook: clique aqui
 Mesquita de Marechal Cândido Rondon

HISTÓRIA:

A Mesquita Muhammadia Jame foi inaugurada em junho de 2014.

Na cidade de Marechal Cândido Rondon, cuja população é de cerca  de 47 mil habitantes, está uma das maiores colônias de bengalis (ou bengaleses) do Brasil, muitos deles na condição de refugiados.
A comunidade muçulmana na cidade é formada por cerca de 150 pessoas, vindas de Bangladesh, Paquistão, Senegal, Gana, Nigéria, Somália e Síria. Grande parte dessa comunidade trabalha no abate halal dos Frigoríficos Copagril do município, contribuindo por tornar o Brasil o maior exportador mundial de carne de frango halal.
Anteriormente as orações coletivas (Salat ul-Jumu'ah) eram feitas dentro das dependências da empresa, porém, desde Shaban-Ramadan 1435, têm agora o local consagrado.
Interior da Mesquita Muhammadia Jame

Comunidade Muçulmana de Marechal Cândido Rondon

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Filmes islâmicos

É vasta a produção de filmes sobre o Islam ou sobre temas a ele relacionados.

Abaixo, indicamos alguns disponíveis em português, dublados ou legendados, sob o formato de DVD.

São filmes que contam com a aprovação de autoridades muçulmanas, em particular o primeiro citado, lançado com a autorização da Universidade de Al-Ahzar (Egito).

É importante, contudo, ressaltar que, no filme "Muhammad - O Mensageiro de Allah", o Profeta (saws) em nenhum momento é representado nem sua voz é ouvida. Isto também vale para a família do Profeta (saws) e os primeiros Quatro Califas (r.a.).
  1. Maomé (Muhammad) - O Mensageiro de Allah. Título em inglês: The Message. Direção: Moustapha Akkad. Produção: Líbia, Líbano e Reino Unido. Idiomas: inglês e árabe. Ano de lançamento: 1976. No Brasil, lançado pela Continental Home Vídeo. Wikipedia
  2. Abraão - O Profeta. Título em inglês: Abraham, The Friend of God. Direção: Mohammad Reza Varzi. Produção: Irã. Idioma: persa. Ano de lançamento: 2008. No Brasil, lançado pela FlashStar Filmes.
  3. Jesus - O Espírito de Deus. Título em inglês: Jesus, the Spirit of God  ou  The Messiah. Direção: Nader Talebzadeh. Produção: Irã. Idioma: persa. Ano de lançamento: 2007. No Brasil, lançado pela FlashStar Filmes. Wikipedia
  4. Maria - A Mãe de Jesus. Título em inglês: Saint Mary. Direção de Shahryar Bahrani. Produção: Irã. Idioma: persa. Ano de lançamento: 2002. No Brasil, lançado pela FlashStar Filmes. Wikipedia
  5. José do Egito. Título em inglês: Prophet Joseph. Direção: Farajollah Salahshour. Produção: Irã. Idioma: persa. Ano de lançamento: 2008. No Brasil, lançado pela FlashStar Filmes.
  6. Umar ibn Al-Khattab - The Conqueror of the World. Direção: Hatem Ali. Produção: Arábia Saudita e Qatar. Idioma: Árabe. Ano de lançamento: 2012. Série de televisão completa, em 30 episódios, produzida pelo MBC Group & Qatar TV. No Brasil, foi legendado em português pela King Star Video e Fauzi Mansur Cinematográfica. Wikipedia  Para assistir on-line: clique aqui

Muhammad - O Mensageiro de Allah (1976)
Abraão - O Profeta (2008)
Jesus - O Espírito de Deus (2007)
Maria - A Mãe de Jesus (2002)
José do Egito (2008)
Umar ibn al-Khattab (2012)


terça-feira, 4 de março de 2014

A primeira tradução do Alcorão em português

Novamente, voltamos ao tema da tradução do Sagrado Alcorão ao vernáculo, com a clareza de que o Livro Evidente deve ser lido sempre no original, em árabe clássico.

É com inteira razão que Rafael Cansinos Assens, no prólogo à sua versão em espanhol do Nobre Alcorão (Madrid, Aguilar, 1951, página 31), afirma que não somente nenhuma das traduções alcorânicas é perfeita como é impossível que alguma o seja nunca.
E acrescenta: "El Korán, aún más que los grandes libros clásicos latinos y griegos, es, por el tono de su inspiración y la índole particular de su lengua, un libro que nunca podrá verterse a otro idioma en un molde perfecto."

Assim, numa modesta tentativa de levantamento das edições em português, consultamos as referências bibliográficas disponíveis (vide as fontes, ao final) para listarmos as traduções em ordem cronológica de publicação e chegarmos, quiçá, à primeira delas.

Na introdução à sua erudita tradução ao português do Nobre Alcorão (2ª edição, Lisboa, 1980, páginas 4-7), o Professor José Pedro Machado faz um inventário de manuscritos inéditos do Alcorão em bibliotecas portuguesas, com os seguintes resultados:
● Biblioteca Nacional de Lisboa:
- Manuscrito 1-P-5-20: Extractos do Alcorão.
- Manuscrito 3-Y-4-57: Alcorão, acabado de copiar no mês de Sha'aban do ano 1011 da Hégira (janeiro de 1603).
● Biblioteca de Évora:
- Manuscrito 5-Códice CXVI/1-40: Exemplar escrito em belos caracteres magrebinos a preto, vocalização a encarnado, mas os outros sinais auxiliares a verde, excepto a pontuação e o u indeterminado ou adverbial, que são a amarelo. Contém 64 folhas de texto em excelente papel calandrado e mais 4 de guarda. Al Korano, com versículos das suras 86 e 87 e a sura 4. Com explicações em latim, parece ter usado como referência a tradução inglesa de George Sale, cuja primeira edição ocorreu em 1734.
● Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa:
- Manuscrito 6-Manuscrito nº 435: Códice encadernado, de folhas não numeradas. O título das suras e a separação dos versículos são a encarnado. Caligrafia magrebina bastante legível. Trata-se de um exemplar do Alcorão encontrado em uma "preza" que se fez no Mediterrâneo (notícia de 1825).

Nenhum dos manuscritos acima, como se pode presumir, constitui uma tradução ao idioma português do Nobre Alcorão.

A princípio, pudemos então levantar, em ordem cronológica, as traduções ao português do Nobre Alcorão, segundo a data da primeira edição:

 Traduções parciais:
  • 1942 - Jamil Almansur Haddad (muçulmano).
  • 1943 - Agostinho da Silva (cristão católico?).
  • 1970 - F. Abu Iúçuf, pseudônimo literário de Francisco José Velozo (cristão católico?).
  • 1971 - Suleiman Valy Mamede (muçulmano).
 Traduções completas:
  • 1961 - Nagib Modad (druso).
  • 1964 - Bento de Castro, pseudônimo de Constantino de Castro Lopo (cristão católico?).
  • 1974 - Samir El Hayek (muçulmano).
  • 1978 - Américo de Carvalho (cristão católico?).
  • 1979 - José Pedro Machado (cristão católico?).
  • 1980 - Mansour Challita (cristão maronita).
  • 1988 - Iqbal Ahmad Najam e Edelweiss de Almeida Dias (ahmadia).
  • 1991 - Youssuf Adamgy (muçulmano).
  • 2005 - Helmi Nasr (muçulmano).
O ilustre Doutor Muhammad Hamidullah, em sua tradução ao francês do Nobre Alcorão (Le Saint Coran, 12ª edição, Maison d'Ennour, 1986, página LXXXIX), ao apresentar uma copiosa lista de traduções a dezenas de idiomas, dá-nos a primeira pista de haver uma edição anterior às acima citadas. Por uma comunicação da Biblioteca Imperial de Calcutá (Índia), datada de 1946, Hamidullah informa (no item 1 de sua bibliografia) a existência de uma tradução ao idioma português, com data de 1882, por Bucaraviego, não informando, contudo, se este seria o tradutor ou o editor. A seguir, no item 2, Hamidullah descreve uma tradução anônima: O Alcorão, Traducção portugueza cuidadosamente revista, Paris, 1882, e questiona, com dúvida, se não seria a mesma que a precedente (i.e., por Bucaraviego). Em seguida, no item 4, Hamidullah dá a notícia de outra (?) tradução anônima: O Alcorão, Traducção portugueza cuidadosamente revista, avec titre en caràcteres arabes, Rio de Janeiro, Garnier, s.d.

Parece-nos bastante plausível a suposição de que as edições referidas por Hamidullah sejam a mesma.

De sua parte, Míkel de Epalza, na obra El Corán y sus traducciones: propuestas (Universidad de Alicante, 2008, página 116), enumera duas traduções anônimas ao português na sua lista. A primeira seria de um tradutor anônimo português, de 1882, uma edição impressa na França. E Epalza acrescenta, citando Sidarus [ou seja, Adel Sidarus, em Nota Sobre as Traduções Portuguesas do Corão, in: Revista Qurtuba, Córdoba, volume 5, 2000, páginas 277-280]: "Exemplar não consultado. Informação da BN da França. Haverá qualquer ligação com a versão francesa publicada no ano seguinte (reimpressão 1923) por Garnier Frères, sob o título Le Koran. Précédé d'un abrégé de la vie de Mahomet [x-533p.]". Se assim for, este tradutor anônimo português teria feito a sua a partir da tradução francesa de Claude-Étienne Savary, a qual é efetivamente precedida por um resumo da vida do Profeta Muhammad (saas).
A segunda tradução, ainda segundo Míkel de Epalza, seria de um tradutor anônimo brasileiro, "sem ano de edição, mas parece que do século XX".

Por fim, as três notícias bibliográficas que tendem a confirmar a data da edição brasileira foram encontradas nos catálogos da Biblioteca Nacional do Brasil, da Biblioteca Nacional da França e do Système Universitaire de Documentation (Sudoc) da França. A primeira, no catálogo antigo de obras raras da BN do Brasil, possui a seguinte descrição: Alcorão, Traducção portugueza cuidadosamente revista, Rio de Janeiro, B.L. Garnier, 1882, 553 páginas. A segunda, no catálogo da BN da França, confirma integralmente a descrição anterior. E a terceira, no catálogo do Sudoc, ratifica as notícias dos dois outros catálogos e detalha mais a informação, segundo a qual houve uma edição múltipla desta tradução no ano de 1882, a saber: no Rio de Janeiro (B.-L. Garnier), em Paris (E. Belhutte) e em Lisboa (Bertrand). E completa: "P. de titre en arabe en regard de la p. de titre. - Daté d'après le timbre du d.l."

Portanto, ainda que não haja elementos definitivamente conclusivos, pois não podemos afirmar se seria um tradutor anônimo português ou se seria brasileiro (ou de outro país lusófono), ou ainda se seria uma retradução (ou não) da versão francesa de Savary (sem o resumo da vida do Profeta), não obstante isso, é categórico que a edição, cuja capa e folha de rosto apresentamos abaixo, é de 1882 e constitui a primeira tradução completa ao vernáculo português do Nobre Alcorão, de que se tem notícia.
Allahu Áalam.
Allah sabe melhor.
Anônimo - 1882
Alcorão - Tradutor Anônimo - 1882 (capa)
Alcorão - Tradutor Anônimo - 1882 (rosto)

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
FONTES:
1. José Pedro Machado. Alcorão. 2ª edição, Lisboa, Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1980, páginas 4-7
2. Muhammad Hamidullah. Le Saint Coran. 12ª edição. Paris, Maison d'Ennour, 1406 (1986).
3. Míkel de Epalza, Josep Forcadell y Joan Perujo. El Corán y sus traducciones: propuestas. Alicante, Universidad de Alicante, 2008, páginas 115-117. [1]
4. Adel Sidarus. Nota Sobre as Traduções Portuguesas do Corão. In: Revista Qurtuba - estudios andalusíes, Córdoba, vol. 5 (2000), pp. 277-280.
5. Abdoolkarim Vakil. Do Outro ao Diverso - Islão e Muçulmanos em Portugal: história, discursos, identidades. In: Revista Lusófona de Ciência das Religiões, Lisboa, Ano III (2004), n.º 5-6, pp. 283-312. [2]
6. İsmet Bi̇nark, Halit Eren, Ekmeleddin İhsanoğlu. World bibliography of translations of the meanings of the Holy Quran - printed translations: 1515-1980. Istambul, Research Centre for Islamic History, Art and Culture, 1406 (1986), 880 p. [3]
7. Catálogo antigo de obras raras da Biblioteca Nacional do Brasil. [4]
8. Catálogo da Biblioteca Nacional da França. [5]
9. Catálogo do Système Universitaire de Documentation (Sudoc) da França. [6]